Malfeito feito

Depois de haver perdido quase duas horas e meia escrevendo um milhão de palavras que ninguém mais se importa, eis que surge aquela pessoinha que sempre esteve ao seu lado e te faz apagar tudo, respirar fundo, pensar melhor, e se resumir em "perdoe-me". Para que não mais, misturando a ficção com a realidade, confundamos quem é quem. Para que não hajam mais essas lembranças-alimentares daquilo que nunca mais será. E para que não haja mais ninguém machucado e prejudicado. Que se encerre aqui.

Olha o que me faz

Talvez eu tenha perdido a mão.
Talvez eu tenha perdido a manha.
Se a conversa é com você, sou eu sempre quem apanha.

Com você é o paraíso.
Com você eu paraliso,
Tornando-me incapaz de completar essa imprestável rima.

Chacoalhão

– O que queres encontrar é a idealização do inexistente. Pare de se comportar como uma criancinha de ensino fundamental que você não é! Essas lágrimas caem em vão por um motivo chulo. Dê o seu sorriso mais íntimo só pra quem merece tê-lo. E espere que se prove o merecimento de tê-lo – é o mínimo. E quando for provado o contrário, tome-o de volta. Ele é seu. Só seu. Está me entendo?

Castanhemos


Castanho-mar, castanho-ar, castanho-azul.

Castanho-meu, castanho-seu, castanho-tu.
Castanho-nada, castanho-tudo, castanho-mudo.
Castanho-cego, castanho-prego, castanho-agudo.
Castanho-amei, castanho-sei, castanho-sou.
Castanho-mel, castanho-céu, castanhou-vou.
Castanho-esmero, castanho-quero, castanho-nós.
Castanho-ensejo, castanho-almejo, castanho-após.
Castanho-posso, castanho-adoço, castanho-temos.
Castanho-rei, castanharei. Castanharemos.

A pessoa que és

Está na hora de entrar em ação
Materializar a antiga intenção.
És tu livre. Não te tenho nas mãos.
E gosto eu assim: sem sim e sem não.

Mas não posso mais agüentar.
Sem fugir, fingir ou negar,
Eu te peço: assuma o lugar
Que é teu, e teu sempre será.

Eu sei, confesso que errei.
Sem te conhecer, logo te inventei.
Tolice minha, quase te magoei.
Sendo você muito melhor que pensei.

Todavia, agora aqui estou
A lamentar este tempo que passou,
A proximidade que se desperdiçou,
E a maldosa circunstância que nos distanciou.

Eu esperei não sei bem pelo quê.
Eu demonstrei, e você fingiu não ver.
Mas acredito que eu esteja à mercê
De um destino que me prende a ti.

Acontece

O sinal toca, e todos os alunos saem de sua sala e se direcionam a saída. Eles ficavam lá fora, esperando os país ou o ônibus, e enquanto isso, aproveitavam para botar o papo em dia:
- Ei, Luís. Não vai mais falar comigo, não, seu tampo? – Léllis dá um tapa carinhoso no ombro dele, sorrindo, e se curva, sugerindo um abraço. Ele a abraça, lógico. Ele a adora. São muito amigos desde há muito tempo.
- Oi, Léllis. Fazia tempo que eu não te via. Como está?
- Eu estou ótima, graças a Deus. E você?
Enquanto eles trocavam mais umas três falas cada um, Luís observa por trás de Lélly a aproximação de uma amiga dela. Uma pessoa que, digamos, despertava o interesse dele. Assim que ela passa, ele a prende, singelamente:
- Oi,  Íris. Tudo bem?
- Tudo. – responde Íris, objetivamente.
Ela pára um pouco mais afastada, calada. Léllis, meio que tentando ajudar o amigo, se dirige a ela, dizendo:
- Nossa, Íris. Geralmente quando alguém pergunta se está tudo bem, se faz a pergunta de volta. Não vai perguntar como ele está, não?
- Não. Se eu quisesse saber eu tinha perguntado.
Pobre Luís.

Tirem as crianças da sala

Era uma vez, numa terra não tão distante daqui, com pessoas não tão diferentes das pessoas daqui, e problemas que eram os mesmos problemas daqui. Sim, eu estou falando de Órossom. Uma terra onde as leis a serem seguidas eram aquelas formuladas pelos mais fortes, os que tinham poder e mau caráter para isso, pois elas só serviam para benefício próprio. Mas, é claro, isso não acontecia abertamente, declaradamente aos olhos de todo o público. Naquele país, existia a arte de enganar o povo, de maquiar as coisas. De fingir que existo para te proteger, quando na verdade eu existo para proteger àqueles de quem eu deveria te proteger. Lá, as coisas funcionam assim: os patrões se sobrepõem arbitrariamente contra os trabalhadores assalariados, atrasando seus salários, não pagando vale-transporte, muito menos hora extra. Aí o trabalhador, recorrendo aos seus direitos junto ao patrão, é totalmente rechaçado. Quando não, despedido. E isso já no meio do mês sem o pagamento do salário efetuado. Então o trabalhador vai recorrer no Ministério do Trabalho. Chegando lá, ele é muito bem atendido, e sai com a esperança de que alguma providência será tomada. Grande é seu engano! O próprio Ministério denuncia ao patrão denunciado a visita de tal trabalhador, que é demitido sem o pagamento de seu salário e sem o fundo de garantia liberado. Está nas mãos da sorte, pobre coitado. Viram? Igualzinho a aqui.